terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma crítica ao pessimismo

"(...) o pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque desindividualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a lei própria da vida; portanto lhe tira o caráter pungente de uma injustiça especial, cometida contra o sofredor por um destino inimigo e faccioso! Realmente o nosso mal sobretudo nos amarga, quando contemplamos ou imaginamos o bem do nosso vizinho; porque nos sentimos escolhidos e destacados para a infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para a fortuna. Quem se queixaria de ser coxo - se toda a humanidade coxeasse? E quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto na neve e friagem e borrasca de um inverno especial, organizado nos céus para envolver a ele unicamente - enquanto em redor, toda a humanidade se movesse na luminosa benignidade de uma primavera?

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"(...) o pessimismo é excelente para os inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da inércia. Se toda meta é um monte de dor, onde a alma vai esbarrar, para que marchar para a meta, através dos embaraços do mundo? E de resto todos os líricos teóricos do pessimismo, desde Salomão até Schopenhauer, lançam o seu cântico ou a sua doutrina para disfarçar a humilhação das suas misérias, subordinando-as todas a uma vasta lei da vida, uma lei cósmica, e ornando assim com a auréola de uma origem quase divina as suas miúdas desgraçazinhas de temperamento ou de sorte.(...)"

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Jacinto filosofa a José Fernandes sobre o pessimismo na obra "A Cidade e as Serras", de Eça de Queirós.