Para inaugurar este blog vou postar um texto com reflexões importantes sobre a normalidade. Mas antes tenho uma reflexão a propor (como não poderia deixar de ser): Você é normal?
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Eu sou normal?
Para a filosofia essa pergunta não tem sentido
http://www1.uol.com.br/vyaestelar/filosofia_personalidade.htm
por Monica Aiub
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Quando nosso modo de ser se diferencia do comum, muitas vezes somos chamados de anormais, loucos. Dependendo do contexto em que isso ocorra, poderá provocar dúvidas em nós: sou normal? Estou enlouquecendo? É normal pensar assim? É normal viver assim?
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Você já se fez alguma dessas perguntas na vida? Antes de qualquer resposta é preciso avaliar: o que significa ser "normal"?
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No Dicionário de Filosofia (2003), Abbagnano define normal como "aquilo que está em conformidade com a norma"; "aquilo que está em conformidade com um hábito ou com um costume ou com uma média aproximada ou matemática ou com o equilíbrio físico ou psíquico".
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Desta definição poderíamos concluir que o normal é uma média do comum, ou de uma maioria. Assim sendo, se não reproduzirmos os hábitos ou costumes de nossa sociedade, seremos anormais? Quantas vezes hábitos, costumes, regras, leis de uma sociedade foram modificados? Historicamente há muitos exemplos: o papel da mulher na sociedade, a escravidão, os valores morais, as relações de trabalho, as formas de organização das sociedades… Numa mesma cultura são verificadas modificações no tempo, e num mesmo tempo é possível perceber claramente diferenças culturais regionais.
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Se você já viajou para outro país, ou mesmo para regiões diferentes de nosso país, deve ter observado hábitos, costumes diferentes. As pessoas daquela região, por possuírem hábitos diferentes dos seus, são anormais? Você é anormal? Qual a norma à qual deveremos estar em conformidade?
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Diferentes grupos criam diferentes regras, constituem seus hábitos. Discordar dos hábitos de seu grupo e desejar construir uma forma diferente de organizar sua vida permite considerar que você é anormal? Questionar os costumes de sua sociedade significa ser anormal? Concluir isso implicaria em reproduzir costumes, em estagnação, imobilidade, ausência de construção. As normas seriam consideradas e reconhecidas como absolutas e invariáveis.
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Se somos responsáveis pelo mundo que construímos, assim como pelas formas de existência que criamos, necessitamos avaliar constantemente nossa própria construção. Por isso, nossas atividades, nossos valores, nossas leis, nossas normas modificam-se de tempos em tempos, a fim de acompanhar as mudanças originadas nesta construção. Da mesma forma, o que consideramos normal também varia.
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Mas no cotidiano, normal é considerado aquele que se submete à pressão das normas, que age como se espera; "anormal" é quem foge às regras, quem busca saídas criativas. E quando um comportamento, tido como normal, não é aceitável para a pessoa? E quando construímos socialmente uma norma de comportamento que traz malefícios? E quando seguir a regra implica em abandonar os sonhos que dão sentido à existência? O que fazer?
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Busquemos um equilíbrio. Se considerarmos normal aquilo que está em conformidade com o equilíbrio, precisaremos, inicialmente, esclarecer o conceito de equilíbrio. Se equilíbrio for uma medida absoluta, nos encontraremos novamente diante da impossibilidade de estabelecer um padrão de normalidade; se for um equilíbrio subjetivo, então como traçar uma medida? Como avaliar se algo é normal ou não?
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As idéias e comportamentos de uma pessoa podem estar fora da medida convencionada socialmente e essa ser a sua medida, trazendo-lhe equilíbrio. Idéias e comportamentos podem estar fora da medida convencionada e isso ser impedimento para a vida. Em filosofia clínica, a diferença entre normal e anormal está na forma como essas idéias ou comportamentos afetam a vida do *partilhante e seu contexto. O objetivo é auxiliar a pessoa a encontrar a própria medida de equilíbrio. Uma medida que não é absoluta, mas acompanha o movimento da existência.
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* partilhante é aquele que recorre à filosofia clínica
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Monica Aiub
Filósofa Clínica. Mestre em Filosofia da Mente (UFSCAR-SP). Professora Titular do curso de Especialização em Filosofia Clínica do Instituto Packter. Autora dos livros: Filosofia Clínica e Educação (WAK, 2005); Para Entender Filosofia Clínica (WAK, 2004); Sensorial & Abstrato: como avaliá-lo em Filosofia Clínica (APAFIC, 2000). www.institutointersecao.com